ENSAIO : O ornitorrinco, a estrela e o telescópio
Por : Herik Zorneck
1- Introdução
A taxonomia – ou ciência das classificações – é um tema recorrente nas mais diversas áreas do conhecimento.
O problema das classificações tem ocupado – ao longo dos séculos – algumas das mentes mais brilhantes de todos os tempos.
Começando por Aristóteles, e pelas classificações taxonômicas propriamente científicas de Lineu no século XVIII, passando pelas especulações epistemológicas de Immanuel Kant, e pelas contribuições de Emile Durkheim (“As Formas Elementares da Vida Religiosa”) e Claude Lévi-Strauss (“O Pensamento Selvagem”) ao estudo das taxonomias populares, até chegar ao domínio da Química com o russo Mendeleiev e sua tabela periódica dos elementos.
Uma das características mais importantes da linguagem e do pensamento é a de que utilizamos conceitos e categorias organizados em pares de oposições para descrever a realidade.
Através do uso de dicotomias, segmentamos o contínuo da realidade para dar sentido ao discurso.
Contudo, alguns objetos do mundo real desafiam nossas classificações (por não se enquadrarem bem em nenhuma categoria) e pertencem a uma espécie de “terra de ninguém” entre os conceitos, fazendo com que – muitas vezes – sejamos obrigados a repensar nossos paradigmas.
No domínio da astronomia, um desses objetos é conhecido pelo nome de anã marrom; um “objeto subestelar” de características bastante peculiares : grande demais para ser um planeta, porém sem massa suficiente para se tornar uma estrela, ele pode ser considerado como o elo perdido entre eles, ou como um tipo de ornitorrinco cósmico.
IMAGEM: ornitorrinco de pelúcia
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” (…) o ornitorrinco não é horrível, mas prodigioso e providencial para pôr à prova uma teoria do conhecimento. À propósito, pela sua aparição muito remota no desenvolvimento das espécies, insinuo que não seja feito com pedaços de outros animais, mas que os outros animais é que são feitos dos seus pedaços (…) Para falar rapidamente, Kant não sabia nada sobre o ornitorrinco, paciência, mas o ornitorrinco, para resolver sua própria crise de identidade, deveria saber algo sobre Kant.” (trecho do livro “Kant e o ornitorrinco”, de Umberto Eco)